Hoje, com um aninho de vida recém-completado, Victor está feliz, saudável e cheio de energia. Mas não foi sempre assim. Seus primeiros dias não foram fáceis. Teve de permanecer internado na UTI do Hospital Materno Infantil Santa Catarina, de Criciúma, até ficar plenamente preparado para a vida. Foi um período bem difícil, de muita dor, sofrimento e angústia para Victor, seus pais e sua maninha Lara. Mas foi lá que ele também ganhou um amiguinho que o acompanha até hoje, sempre com muito carinho e pronto para o abraçar: o Polvo do Amor.
Feito de crochê, o Polvo do Amor passou a ser adotado no começo do ano passado pelo hospital, passando a fazer companhia a todos os bebês da UTI do Materno Infantil, instituição administrada pelo Instituto de Desenvolvimento, Ensino e Assistência à Saúde (Ideas) em parceria com a prefeitura de Criciúma. “Esse polvinho, para muitos, parece só um bichinho, um brinquedo. Mas para mim e para minha família, não. Porque foi ele que estava do ladinho do Victor quando ele mais precisava. E então eu guardo com muito carinho e nesse momento de felicidade (quando Victor completa um ano), ele também tem que estar do ladinho do Victor”, disse a mãe Ana.
Origem
O movimento do Polvo do Amor começou em 2013 na Dinamarca, quando um grupo de voluntários decidiu fazer polvos de crochê para ajudar na recuperação de bebês prematuros em um projeto chamado Spruttengruppen (The Danish Octo Project). Eles são considerados os “pais” da ideia. Os polvos de crochê são colocados dentro da incubadora, junto aos bebês prematuros. Os tentáculos do polvo remetem ao útero materno porque se assemelham ao cordão umbilical.
De acordo com relatos de pais e profissionais de saúde de UTIs neonatais, o uso do polvo de crochê parece acalmar os pequenos, ajudando a normalizar a respiração e os batimentos cardíacos e evitando que eles arranquem fios de monitores e tubos de alimentação. Há diversos perfis de bebês prematuros e os tentáculos do polvo se assemelham ao cordão umbilical da mãe. Com isso, eles se sentiriram protegidos. Os relatos são de melhora nos sinais vitais e ganho de peso mais rápido – embora ainda não existam comprovações científicas dos benefícios dos polvos de crochê para os bebês, apenas relatos de iniciativas bem-sucedidas.
Primeira experiência
A primeira experência no Hospital Materno Infantil com o polvo de crochê foi feita em 2 de março de 2017. Foi escolhido o bebê prematuro mais agitado entre os 10 que ocupavam os leitos da UTI da unidade. Ela era agitada, chorosa, gostava de colocar suas mãozinhas na cânula traqueal, na sonda gástrica, nos equipamentos, sempre tinha que estar envolvida na malha tubular para contenção, senão ela “puxava tudo”, como lembra a equipe.
Com a presença do polvo dentro da sua incubadora, o bebê apresentou-se muito mais calmo, com boa melhora na frequência respiratória, na frequência cardíaca e iniciou com dieta no mesmo dia. “Nossa, ela é outra criança, bem mais calma”, disse, na época, a mãe da bebê. “Tivemos uma resposta imediata. Em menos de 24 horas notamos que o polvo realmente é muito importe para o desenvolvimento e tranquilidade para o bebê”, relatou a enfermeira Gabriela Maciel.
Visita
No mês que vem, a Ana, mãe do menino Victor, prometeu levar o bebê para visitar os profissionais que o atenderam naqueles momentos difíceis – e claro que o amigo polvo vai junto. “Eu só tenho a agradecer todos os dias por meu filho estar aqui comigo e agradeder a Deus por vocês, que são uns anjos que ajudam as pessoas com carinho e amor”, disse Ana, referindo-se à equipe do hospital. “Isso nos dá mais força e nos faz acreditar que estamos no caminho certo”, agradeceu Lenita Duart da Silva de Campos, gerente de enfermagem do Materno Infantil. “Isso é uma recompensa por todo o nosso esforço, digo isso parabenizando todos que fazem parte da equipe”.